Há alguns anos, ao preencher uma documentação para ingressar na universidade, no campo onde escreveria minha nacionalidade, coloquei como resposta “Brasiliano”. Confesso que fiquei frustrado por nunca ser questionado sobre aquela resposta, mas, para mim, aquilo era uma verdade libertadora.
Crescemos e absorvemos a cultura em nosso redor. Somos formatados pela realidade que nos cerca. Aprendemos que a vida é assim e que quanto mais nos conformarmos e a aceitarmos, mais fácil nossa vida será. Lembro bem de uma citação de Carl J. Jung que diz “Todos nós nascemos originais e morremos cópias”.
Questionar é um exercício que exige esforço e muitas vezes é bem dolorido. Pouco a pouco começamos a nos separar da multidão e nos distanciamos das certezas que tínhamos para conhecer uma nova realidade de vida. E essa descoberta acontece através de palavras bem simples. Nós as escutamos e elas nos revelam verdades profundas. Está escrito que a fé vem pelo ouvir, mas estamos sempre tão ocupados em seguir a maré que não temos tempo para sequer ouvir o que comunicamos.
Se alguém nasce na Itália, é italiano. Se nasce no México, é mexicano. Se nasce na Austrália, é australiano. Agora se alguém ganha a vida com pão, é padeiro. Se ganha com sapatos, é sapateiro. Se com ferro, é ferreiro.
Quando os portugueses iniciaram a colonização do Brasil, os que vieram para cá e aqui enriqueceram começaram a ser conhecidos como "brasileiros" por seus conterrâneos, pois o seu ganho era com o Brasil. E essa é a cultura que nos foi legada. Nossa identidade está atrelada em o que conseguirmos ganhar. Não importam os meios, de tal forma que construímos a expressão "jeitinho brasileiro". Somos os mestres das gambiarras. Como Gérson bem resumiu "o importante é levar vantagem".
É ainda mais grave o fato de não percebermos que todos nós praticamos estas mesmas ações. Nós crescemos vivendo assim. Apontamos àqueles que são mais ousados e que ganham muitíssimo mais, mas concordamos sem pestanejar em pagar R$2 por aquilo que custa R$1,99. Também aceitamos como uma "bênção", quando nosso delitos passam despercebidos ou são ignorados. A verdade mesmo é que somos brasileiros e temos orgulho disso. E nossa vida será sempre esta, pois queremos que o sistema mude, que as leis mudem, que os políticos mudem, mas não queremos deixar de sermos quem somos. É mais confortável. Mudar exige esforço, luta.
Somos um país de maioria e berço cristãos, mas ignoramos que São Paulo disse "não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente" (Rm. 12.2). Somos convocados a mudar o mundo ao nosso redor. Esse é o sentido de nossa vida. Deus nos confiou esta tarefa. Enquanto nos perguntamos "onde Ele está?", Ele nos pergunta o que temos feito a respeito dessa situação.
Ao entender isso, percebi que eu não quero ser mais um que busca vantagem. Eu quero ser um que procura a justiça. Quero que todos possam ter acesso a ela e, mais ainda, que possam ter acesso ao Reino de Deus, que já veio até nós. Essa verdade precisa ser conhecida e vivida. Porque está escrito "busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e serão acrescentados a vocês o que beber, o que comer e o que vestir" (Mt 6.31-33). E estando feliz com isso, o que mais é preciso? Não necessitamos mais ter para ser, porque já sei quem sou. Eu não sou o que possuo. Minha identidade é ser cidadão de um Reino no qual o Grande Rei se fez súdito para mostrar que não há grandeza maior que servir. E Ele deu Sua própria Vida para mostrar até onde Ele estava comprometido com sua Palavra.
Enquanto, muitos brigam para trocar os homens no poder (por outros), a minha luta é para que Ele assuma o trono, não só de toda a minha vida, mas todos os tronos aqui. Por acaso, não é isso que pedimos quando recitamos o Pai Nosso, que venha a nós o Reino Dele e que a vontade Dele seja feita aqui na Terra como no Céu?
wow fantástico
ResponderExcluirwow fantástico
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