Liberdade é saber comer manga!


O meu último post me fez lembrar de uma experiência muito feliz de minha infância que há muito estava esquecida. Quando eu era criança, meu pai possuiu um sítio. Pelo que lembro, não era um terreno muito grande, mas tinha muito verde, algumas flores, alguns animais, uma estradinha de terra e muitas árvores - várias delas frutíferas. 

Num belo dia de sol, minha família fez uma visita àquela propriedade e era tempo de colher manga. Creio que nunca tinha visto (e também nunca mais vi) tanta manga quanto naquele dia. As frutas eram carregadas em muitas e muitas viagens em um carro-de-mão. Eu lembro de sentar em um tronco de madeira que estava no meio do caminho por onde o zelador do sítio passava carregando as mangas. Minha tia sentou ao meu lado e me entregou uma das mangas que ela retirou do carro enquanto o homem passava por nós.

A visão daquele delicioso líquido escorrendo em minhas mãos ainda é uma lembrança bem vívida em minha mente. Eu me lambuzei todo com aquela e outras mangas naquele dia. Nada me preocupava naquele momento, era o tempo para comer a manga, se eu estava me sujando, melando, não fazia diferença, eu apenas queria saborear aquele fruto. Não pensei se teria que trocar de roupa - nem mesmo se teria roupa para me trocar - ou lavar a roupa mais tarde e minha mãe também não fez nenhuma questão, ela simplesmente me liberou para aquele momento de diversão.

Esta maravilhosa lembrança me trouxe uma reflexão muito forte logo após o post anterior. Fui ao supermercado e comprei uma manga rosa para o meu café da manhã. Quando chegou o momento de me deliciar com esta saborosa fruta, comecei a refletir sobre os motivos que me fizeram não consumi-la por muito tempo. Pensei que não gostaria de parecer bobo como uma criança atacando aquela manga, ou que não valia a pena o trabalho que existe após consumi-la, ou mesmo a certeza de não conseguir não se melar, pois afinal já sou adulto e não fica bonito se lambuzar com a comida. Em resumo, era por medo de desafiar todo o padrão que foi construído em mim de não errar, não parecer bobo, não assumir o risco de ficar com os dentes cheios de fiapos logo após comer a manga. Tenho que admitir, foi por medo! Medo de enfrentar as críticas do que pensariam de mim, de como me julgariam. E refletindo sobre isso, conclui que esse medo nos priva de realizar aquilo que qualquer criança sabe que é bom, que é divertido, que nos ajuda a curtir os momentos de nossa vida que provavelmente trazem oportunidades únicas. Que a preocupação com a opinião dos outros nos aprisiona, nos encarcera, nos limita.

Na verdade, essa questão da manga me lembrou que, não importa como iremos agir, sempre há alguém que terá uma crítica para nossas atitudes. Não tema lutar por aquilo que você sabe que é bom. Faça o melhor que puder e tenha a certeza de que Deus também está ao seu lado. Ele nos criou de forma única, nós somos únicos, ainda que sejamos muitos. Deus criou a diversidade de cores, de formas, de estações. Por que nós devemos nos encaixar num padrão humano, numa forma, limitar aquilo que Deus nos deu? É verdade que Deus criou um padrão, um modelo a ser seguido: Jesus. Mas esse é o padrão de como nos tornamos filhos Dele, e neste ponto eu lembro do que minha mãe fez naquele dia: ela me permitiu comer a manga do jeito que eu queria, sem me limitar para não me sujar ou não sujar a roupa, porque ela sabia muito bem que eu estava com a pessoa certa (minha tia) e aquele era o jeito e o momento certo de curtir, de me deliciar com as mangas. Deus também tem os momentos certos para tudo em nossa vida. Ele conhece as estações do tempo e as formas certas de como fazer cada coisa. Ele sabe que é melhor comer manga se melando, do que perder toda a graça do momento tentando parecer melhor, alguém que não deixa o líquido da manga escorrer.

Estar no tempo certo, com a pessoa certa e fazer a coisa certa é o que há de melhor no mundo. Parece até muito redundante, mas veja que Deus criou o tempo, a pessoa e o modo para cada ocasião em nossa vida e saber e viver isto é ser livre. E refletindo sobre tudo isso, conclui que a verdadeira liberdade é, portanto, saber comer manga!

2 comentários:

  1. Que texto belíssimo!
    Um show de vivencia e ensinamentos.
    Obrigada por compartilhar este aprendizado

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  2. Rpz... tu é um comedor de manga mesmo... heheheh! Boas palavras... Deus te abençoe!

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